Na mesma semana em que mais uma atriz viu sua
intimidade exposta na internet, deputados e
senadores decidiram tornar secretas as primeiras
reuniões da CPI mais explosiva desde o escândalo
do mensalão, de 2005.
Preocupados com o sigilo das informações
colhidas pela Polícia Federal, os parlamentares
montaram um esquema para blindar os trabalhos
da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito) que investiga as atividades do bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Em duas sessões com portas
fechadas, realizadas na terça (8) e na quinta-feira
(10), o Congresso ouviu os delegados que
conduziram as apurações.
Mas, apesar do bloqueio, dados das operações da
PF que servem de base para os trabalhos da CPI
vazaram e foram parar na internet. A quebra do
sigilo deixou no ar uma pergunta: com a
popularização da internet e a chegada das redes
sociais, que permitem compartilhar conteúdo em
velocidade inédita, é possível manter em segredo
um assunto de tamanha importância?
Nos últimos dias, a internet mostrou seu poder
para furar a privacidade. Na sexta-feira da semana
passada (4), fotos da atriz Carolina Dieckmann nua
caíram na rede depois que seu computador foi
invadido por um hacker. Em questão de minutos,
as imagens se espalharam e foram parar até em
sites estrangeiros.
Enquanto a privacidade alheia era debatida nas
redes sociais, os parlamentares blindavam as
sessões da CPI e tentavam proteger as
informações do caso Cachoeira em uma sala
montada no Senado com um rígido esquema de
segurança.
Como o processo corre sob segredo de Justiça, os
deputados e senadores alegaram que era
necessário proteger o resultado das apurações já
feitas pela polícia.
O pedido para trancar as portas das primeiras
sessões da comissão, em que foram ouvidos os
delegados Raul Alexandre Marques Sousa e
Matheus Mella Rodrigues, partiu do deputado Luiz
Pitiman (PMDB-DF) e da senadora Kátia Abreu
(PSD-TO).
Eles evocaram o ministro do STF Ricardo
Lewandowski, que liberou os dados em poder da
Corte com uma advertência: "observar as
restrições de publicidade inerentes aos feitos sob
segredo judicial" e "manter o rígido sigilo na
prestação de informações de qualquer material
desta investigação parlamentar".
Por 17 votos contra 11, o pedido foi aceito, mas
não sem protesto, como o do deputado Miro
Teixeira (PDT-RJ), que saiu dizendo que "o
conteúdo vazaria de qualquer maneira".
Para a cientista política Maria do Socorro Souza
Braga, da Ufscar (Universidade Federal de São
Carlos), a internet tornará cada vez mais difícil a
tarefa de deixar a população longe das CPIs.
Ela lembra que até um dos inquéritos analisados
pela comissão vazou primeiro na web. O site Brasil
247 anunciou a publicação de 40 gigabytes de
informações da operação Monte Carlo da seguinte
forma: "saiba aqui o que nem a CPI sabe".
Para Maria do Socorro, a circulação das
informações na internet podem ajudar a opinião
pública a interferir diretamente na condução das
investigações no Congresso.
— Isso será possível no médio prazo, mas vai
depender da organização das redes. Como a
internet tem uma linguagem informal, os jovens
poderão se aproximar da política.
A cientista diz que se trata de uma "forma de
democracia participativa direta, quase como um
plebiscito".
— Pela internet, as pessoas poderão pressionar
partidos, bancadas. À medida que o cidadão
percebe que esse meio pode ser mais rápido para
pressionar, ele vai aderir.
Ao R7, o senador Paulo Davim (PV-PR), que votou
contra o fechamento das sessões da CPI, afirmou
que manter o sigilo em tempos de internet "é um
contrassenso".
— As informações acabam vazando. É difícil
segurar o sigilo. Sempre há um comentário do
membro [da CPI] com alguém que trabalha com
ele, ou com a família. O risco são as informações
que foram mal ouvidas e mal interpretadas
vazarem. Pode acontecer um mal entendido.
Enquanto políticos tentam blindar uma CPI e a
atriz reclama do fim de sua privacidade, há quem
adore os holofotes proporcionados pelo ambiente
virtual.
Também na semana passada, a terapeuta
ocupacional Sabrina Ferigato, de 30 anos, ficou
conhecida por compartilhar o nascimento de seu
filho na internet. O objetivo era propagar a ideia
do "parto humanizado". O vídeo já foi visto por
mais de 2 milhões de pessoas.
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