O procurador da República em Uberlândia (556 km de Belo Horizonte)
Frederico Pelucci instaurou procedimento administrativo para
investigar denúncia de suposta discriminação racial na música "Kong"
do cantor Alexandre Pires. O clipe, que tem no cenário homens
fantasiados de macacos e mulheres seminuas próximo a uma piscina, tem
participação do jogador de futebol Neymar, do funkeiro Mr. Catra, de
David Brazil e foi dirigido por Maurício Eça.
A música, composta por Alexandre Pires e Cláudio Rosa (e que tem
Neymar no clipe), foi divulgada em janeiro deste ano, mas os passos,
que geraram polêmica agora, foram antecipados pelo jogador Daniel
Alves durante comemoração de um gol do Barcelona contra o Real Madrid.
Na época, o cantor disse que a música foi criada em um momento de
brincadeira com os amigos e que o intuito era passar "alegria" para o
público
Segundo a assessoria de comunicação do Ministério Público Federal,
representantes do Movimento Negro encaminharam a denúncia no início da
semana passada por meio da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial. Os
representantes entenderam que a letra, que diz "o bonde do Kong não
vacila. É instinto animal de leão com pegada de gorila", compara
negros aos macacos.
De acordo com o documento, a letra da música e o clipe têm conteúdos
racistas e sexistas que "compromete as lutas do movimento negro na
superação do racismo e no movimento das mulheres na superação do
sexismo". Em outro trecho, o documento diz que combinando artistas e
atletas, o clipe utiliza clichês contra a população negra e que
"reforça estereótipos equivocados das mulheres como símbolo sexual".
O cantor Alexandre Pires foi ouvido pelo procurador no dia 3 de maio.
Durante o depoimento, de acordo com o advogado do cantor, Neto
Caixeta, Alexandre Pires negou que tenha agido de má-fé e que a letra
tenha conteúdo racista. "Tanto o Alexandre quanto os outros autores da
música estão tranquilos, porque a letra e o clipe são desprovidos de
racismo", afirmou.
O advogado disse ainda que os denunciantes tiveram interpretação
equivocada da canção e que a denúncia não tem procedência. "O
Alexandre [Pires] é defensor do Movimento Negro. A maioria dos
participantes do clipe é negra. Jamais teve intenção de ofender."
Até o momento, apenas o cantor foi ouvido pelo Ministério Público
Federal e, mesmo com o procedimento instaurado, o procurador informou
por meio do escrivão que os fatos estão em apuração e que, por
enquanto, não deve se pronunciar sobre o caso.
A reportagem tentou falar com representantes do Movimento Negro, mas
não obteve resposta.
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